2011/06/28

A História do Magog

1992

Formei o Magog em Curitiba em 1990, mas as atividades só começaram de verdade em 1992. Eu tinha acabado de fazer uma viagem pelo Reino Unido e trouxe na bagagem discos de bandas de uma cena do underground londrino que era correlata a o que foi chamado pela imprensa de grunge. Mas o som de Londres era mais sujo e arrastado do que os que a turma de Seattle estava fazendo.


O jornalista e músico Fernando Naporano organizou uma coletânea que saiu em vinil no Brasil - "Another Kind of Noise" , e que trazia alguns desses grupos, como Gallon Drunk, Daisy Chainsaw, Milk e Sun Carriage. Essas duas últimas e mais uma, o Silverfish, tive a sorte de ver ao vivo na capital britânica, e causaram um impacto muito grande em mim, tanto pela quantidade de barulho que faziam quanto pela sua estética niilista. Eu quis incorporar isso no som do Magog, que tinha começado como uma banda de rock gótico, mas que também tocava covers de Buffalo Springfield e Neil Young (!).

Tive a sorte de encontrar as pessoas certas para colocar o projeto em prática, e logo gravamos essa música, que virou hit em Curitiba e até deu nome ao caderno de cultura jovem do jornal Gazeta do Povo:

Magog - Fun (1992) by cassim


O baixista Jansen Botana já vinha tocando comigo há algum tempo; Marcio Kulik tinha uma batida pesada, perfeita para emular os bons momentos da cena sem nome, que muitos insistiram em chamar de "lurch" ou "crustie" por causa dos dreadlocks que seus músicos usavam; e Anderson Cavassim, conhecido como Puga, já era um guitarrista com certa notoriedade na cena de Hard Rock e Heavy Metal de Curitiba. Na época, eu com 19 anos achei arriscado colocar no Magog um cara que nunca tinha ouvido falar de bandas como Ride e Jesus and Mary Chain, e que era fã de Danzig, mas achei que sua criatividade compensaria o risco. E compensou. Pouco tempo depois, fomos elogiados na revista Bizz pelo produtor norte-americano Jack Endino (Nirvana, Mudhoney), que estava no Brasil para produzir os Titãs. O que ele disse sobre sermos Heavy Metal de verdade é culpa das guitarras de Puga. E o produtor acertou: eu não pretendia ser Heavy Metal ao gravar a música "Underworld", mas foi como soou para muita gente. Leia o que Jack Endino disse sobre essa canção:

"Underworld" era minha única canção com mais de 3 minutos na época.

Magog underworld (1992) by cassim

O Magog começou bem e naquele ano fez parte da grande movimentação que tomou conta de Curitiba e do Brasil. A cena independente local se fortaleceu com o lançamento da coletânea em CD "Curitiba in Concert", arquitetada por Helinho Pimentel, que na época comandava a hoje lendária Estação Primeira FM, e da coleção de compactos em vinil da Bloody Records, de JR Ferreira, que tinha acabado de abrir o porão sonoro 92 Degrees. Nós entramos no CD. Ao lado de bandas como July Et Joe, CMU Down, Relespública, Acrilírico, Shades Before Dawn, Os Cervejas, Boi Mamão e outras, ajudamos a tornar o 92 Degrees o quartel general do underground curitibano. Foi lá que o JR fez o primeiro festival BIG (Bandas Independentes de Garagem), durante o qual nasceu o bordão que acompanharia todos os shows do Magog até 1997: "Grebo!" - uma alusão às bandas "sujas" britânicas que acabou se tornando termo apropriado pelos frequentadores do bar de JR.

Veja o Magog no BIG de 1992:



O registro do som não é dos melhores, mas "Fun" foi o grande hit dessa cena. Seu clipe, dirigido pelo filmaker Artur Kummer e pelo artista Cleverson Oliveira, passou bastante na MTV Brasil em 1992 e 1993, mas infelizmente, não tenho uma cópia para postar.



1993

Em uma breve temporada em São Paulo, tivemos aventuras na cidade antes de um show no extinto Cais, conhecemos os donos do selo Banguela (Titãs) e fomos entrevistados por MTV, Folha de SP e outros.

1994

Passamos todo o ano anterior tocando em Curitiba e evetualmente em cidades como Florianópolis, Joinville e São Paulo. A formação mudou: saíram Puga e Marcio, entraram o baterista Luciano Vassao, que também tocava música medieval, e o guitarrista Apollo Eleven. O som mudou bastante: entrou Cream, Slade e música medieval no caldo, e eu continuei cantando em Inglês, o que não incomodava nem um pouco os fãs que íamos conquistando. Acabamos sendo incluídos na coletânea "Alface", que foi produzida pelo Carlos Eduardo Miranda e lançada pelo Banguela Records, selo dos Titãs.

Magog - Bark (1994) by cassim

Magog - The Pattern (1994) by cassim

Magog - Eggs (1994) by cassim

Magog - The King of Rock and Roll (1994) by cassim


Fomos convidados para tocar no Juntatribo de Campinas (SP) daquele ano. Por problemas na organização, que fizeram com que tocássemos apenas às 4h da manhã (e pela insistência de Apollo, que assumiu na época a produção executiva da banda), tocamos também no dia seguinte e num horário muito bom. Foi nessa edição do festival que a banda curitibana Resist Control (também integrante da coletânea Alface) empolgou o público tanto que fez com que ele invadisse o palco. Ele acabou cedendo com tanta gente em cima.





Recebemos boas resenhas na Bizz, MTV, Veja, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e outros e fizemos shows em Goiânia, Brasília, São Paulo, Curitiba e Joinville. Nos anos seguintes, o Magog se tornaria um trio (eu, Jansen e Rafael Virmond). Gravamos uma demo, que pretendíamos lançar como o primeiro disco oficial do Magog.

Magog - Demo 1996 by cassim

Ela marca uma mudança de direção em nosso som, que se tornou mais simples e direto. Foi de certa forma uma volta às origens do Magog.

Em 1998, depois de ter passado alguns anos enviando material para gravadoras brasileiras e estrangeiras, acabei recebendo uma proposta de lançamento da demo de 1996 como disco nos EUA pela GoldRush Records.

1998-2001

Eu me mudei para Nova York
em 1998 e tentei acertar o lançamento do primeiro do Magog por um selo norte-americano. Isso chegou muito perto de acontecer no começo de 1999, mas o selo acabou fechando suas portas antes que tudo fosse formalizado.

Em Nova York,
fui correspondente para alguns veículos brasileiros, e também escrevi para uma revista da cidade que enfocava destinos turísticos para famílias. Fiz essa sobre o Paraná

Mas também escrevi bastante sobre música:


Essa sobre o Flaming Lips foi publicada originalmente em 1999


Entre outras coisas, compus bastante na cidade, alimentado por uma dieta mensal de vários shows de artistas de diferentes gerações. Entre os veteranos, assisti, por exemplo, ao Neil Young tocando violão a cinco metros de meu nariz. Também aproveitei a reunião do Moby Grape, banda seminal da cena Haight-Ashbury de San Francisco dos 60s, e de outros como Faust, Gong, Lou Reed, Laurence Tolhurst (The Cure) e Alex Chilton (Big Star), com quem até tomei um café. Fui uma das cinco pessoas no bar vazio que sediou o show de retorno do Silver Apples aos palcos.

Cheguei a trabalhar na Life, boate rock and roll frequentada por astros e vigaristas. Foi lá que ajudei a mulher de Joey Ramone a vestir nele um casaco (Joey já estava meio mal). A lendária travesti Jayne County era DJ da casa. Entrevistei-a para uma revista brasileira e tive a sorte de estar no bar na festa de reunião das Ronettes, na qual elas subiram ao palco com ninguém menos que Keith Richards, Billy Duffy (The Cult) e o já citado Joey Ramone.

Fui igualmente inspirado pelos shows das gerações mais novas (entre elas, a minha), graças a apresentações de Super Furry Animals, Gomez, Blur, Mudhoney, Swervedriver, Nada Surf,
Mercury Rev, Flaming Lips, Air, e muitos outros.

Cheguei a me apresentar sozinho em noites "open mics" da cidade
. Compus bastante nessa fase, na qual me voltei às tradições musicais norte-americanas para buscar inspiração, flertando ao mesmo tempo com ideias da música brasileira:




A ideia de uma banda mais voltada para o folk e o country também nasceu lá, com essa composição, gravada em meu quarto no Upper West Side:



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